sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Um passo pra lá

Lembro de estar discutindo com ela quando saí, lembro que era noite, lembro que estava frio. Um vento cortava meus lábios e por pouco não congelava a minúscula lágrima que discretamente escorria no canto do meu olho esquerdo, tentava esconder minha tristeza aos olhos de quem passava levando a mão à frente do rosto, mas um soluço me entregava a quem quisesse ouvir. Esqueci meus óculos e por isso tateava com a mão direita a parede dos prédios, me guiava nos vultos que vinham em minha direção, não via rostos, via manchas. Algumas claras outras mais escuras, manchas menores que as minhas, porque simplesmente eu não me via. Sentei no meio fio, uma mancha se aproximou, uma outra mancha menor apareceu na altura do seu rosto, não posso afirmar que era um sorriso, parecia mais um olhar, não me disse nada, esticou uma mancha com uma ponta acesa na minha direção, aceitei o cigarro. A mancha foi escurecendo e se perdeu pela noite mal iluminada da cidade. Levantei e segui o meu caminho, o som dos carros não ajudava em nada, tentava me concentrar para entender porque eu estava andando na rua, no frio. Parei de novo, olhei para os dois lados da rua, atravessei, sentei num bar e pedi uma cerveja, acendi um cigarro. O garçom me trouxe uma cerveja preta, escorei o braço na mesa e fiquei rolando ele na borda do cinzeiro, uma mosca ficou pairando na minha frente, no início não dei bola. Tomei o primeiro gole de cerveja e a mosca sentou na boca do copo. Tentei fingir que aquilo não havia me afetado, afinal de contas eu já estava arrasado, tinha acabado de levar um pé na bunda depois de doze anos. Ela sempre reclamando que eu não a ouvia, que eu nunca prestava atenção e ... ah, essa maldita mosca! Bati na mesa. Garçom? Por que eu tive que sair de casa? Eu aluguei aquele lugar. Que vergonha, doze anos jogados no lixo. Estaria mentindo se dissesse que lembrava do dia que a gente se conheceu, sinceramente não lembro, Rosana pra mim é como se sempre estivesse ali, entende? Não lembro do nosso primeiro beijo, mas também não lembro de ter beijado boca mais gostosa, seus lábios finos predispõe a luxúria, gosto do gosto que ela exala... O garçom se aproximou. O senhor quer alguma coisa? A mancha do garçom é cinza, neutra, como se não estivesse nem aí pra mim ou mesmo pros meus sentimentos. Mais uma cerveja e mais um copo, por favor. Sim senhor é pra já. O garçom se afasta e junto com ele a maldita mosca que sentava bem feliz na boca do meu copo. A música do lugar era muito boa, pena a rádio estar mal sintonizada.
Rosana sempre foi uma mulher, não sei nem como defini-la, uma mulher blindada. É, uma mulher blindada, nunca consegui entrar nela, entende? Rosana era uma tartaruga, uma mulher que realmente sabia se proteger, sempre me teve ao seu controle, minha submissão era criativa, eu mentia que era arrogante pra que ela me atacasse porque me dava um tesão! Mas o tesão virou tensão e as motivações sexuais passaram para outros corpos, não sei porque ela terminou comigo, eu não fiz nada. Como pode? O garçom se aproximou com a cerveja. Sua cerveja! Mas eu pedi preta. Não, o senhor pediu uma cerveja. Tudo bem, levanta a garrafa que está dentro desse isopor. O garçom obedece. Tá vendo essa cerveja, ela te parece cerveja clara? Não senhor. Ok garoto, senta aí um segundo. Senhor eu tenho que... Senta aí garoto! O garçom sentou timidamente. Me responde uma coisa, já ouviu falar no nome Rosana? O garoto assustado engoliu a saliva. O senhor tá falando da cantora? Não. O meu “não”, traduzia realmente o que eu estava sentindo, porque não era aquela Rosana que eu conhecia também, na verdade eu nem sabia quem era a Rosana. Me diz uma coisa garoto, quantos anos tu tem? Dezesseis. Já amou? Não. Quer ouvir uma história de amor? Não. Não gostei da resposta do garoto. Lembra da cerveja errada? Sim senhor! Pois então escuta essa história e esquecemos o seu erro primário, ok? Sim senhor. Relaxei, servi mais um copo de cerveja, acendi mais um cigarro, ofereci para o garoto, ele recusou, depois olhou para os dois lados e tomou um gole da minha cerveja, então comecei a lhe contar.
Um dia garoto, eu estava sentado na frente da TV e me deu uma fome inacreditável, saí de casa o mais rápido que pude, não tinha muita grana e já eram cinco da tarde, só tinha um lugar que vendia sonho a vinte e cinco centavos, a Casa da Nona. Cheguei lá, estava quase fechando, tinha uma menina, linda, que também entrou. Corremos até o balcão e ao mesmo tempo gritamos: “quero um sonho de mumu”! Olhamos a senhora que atendia e nos olhamos, a boa senhora sorriu e nos disse: alguém não terá um sonho essa noite! Meus olhos estavam fixados nos daquela menina, lembro de sorrir, lembro de pensar que por um segundo na vida eu estava tão feliz, então lhe respondi: não me importo de perder esse sonho pois o meu acabou de se realizar. A senhora entregou o sonho à menina, ela sorriu e disse: “o sonho acabou!!”, e saiu correndo da mesma forma que havia entrado. É desse jeito que eu sonho que a Rosana entrou na minha vida, porque eu simplesmente não me lembro. Tu nunca amou ninguém, não é garoto? Não senhor. É garoto, não ame, o amor pode te deixar na rua, sem dinheiro e sem ter onde dormir. O senhor tem onde dormir? Não. O garçom estava simplesmente vidrado, serviu um copo pra ele e acendeu um cigarro. Se precisar de uma grana, eu lhe empresto Senhor. Obrigado garoto, se pagar as cevas já tá bom demais. Mas por favor Senhor, me fale mais da Dona Rosana. Sim, a primeira grande lembrança que eu tenho dela foi da gente sentado numa roda de amigos em uma praia. Eu entrei numa que ela era uma sereia... Lembro do mar, lembro do calor da areia, lembro de estar discutindo com ela por não entender como eu poderia ter um relacionamento sério com uma sereia, e o fedor de peixe em casa? Onde eu iria enfiar uma sereia?
O senhor é um homem apaixonado? Não garoto, sou um homem traumatizado, doze anos se passaram, não faz sentido na cabeça de ninguém, mas nem poderia fazer, mas eu não sei o que sinto. Rosana se perdeu no mundo, voltou no começo do mês passado. Ficou exatos onze anos e onze meses longe daqui e então bate na minha porta. Ela queria terminar o que nunca começamos, ela me amou do jeito dela, esse jeito que nunca é o que a gente quer, mas é o melhor que ela tem para dar. O garçom começou a se perder no assunto. Eu não entendi o que o senhor disse no final. Eu me levantei da cadeira do bar e disse: todos os finais são iguais, legal seria se alguma coisa continuasse.... como uma dança.... um passo pra cá, um passo pra lá...

quinta-feira, 23 de junho de 2011

Apologia eu?

Recentemente fui vítima de preconceito por conta do meu cabelo, faz sentido quando imaginamos quem usava dreads, Bob Marley, o "maconheiro" mais famoso do planeta. Nesse dia escutei em uma lanchonete vazia a seguinte frase: "Por mim que liberem a maconha, assim eles fumam e morrem tudo".
Então, quando estava me sentindo humilhado e excluído da sociedade me veio uma pergunta: o que Fernando Henrique Cardoso e Bob Marley tem em comum? Poderíamos dizer que nada, mas nos últimos dias tenho visto o ex presidente dando longas entrevistas à emissoras e jornais do país e descobri que eles tem em comum a maconha. Sim, FHC e THC, a combinação que a direita brasileira acredita que salvará a oposição no Brasil.
Eu mesmo quase caí no plano mais idiota que a política brasileira já articulou, realmente esses caras não pensam no povo, ora, onde já se viu o Fernando Henrique Cardoso vir a público defender a legalização da maconha? "Pera aí Cesar, mas logo tu pensando isso, justamente quando o assunto está em alta, agora é a hora de..." ...De pensar direito e não direita.
A legalização da maconha é questão de tempo, já a retomada da direita no cenário da política brasileira está para acabar, temporariamente, é lógico, mas está no fundo do poço e só quem está no fundo do poço apela desse jeito. Quando FHC deu a declaração sobre o "povão" ele deu um tiro no pé da direita brasileira.
Ali eles se mostraram e mostraram como vêem a grande massa brasileira, ali eles cuspiram na nossa cara, mas agora o que temos aqui... FHC manipulando THC.
A direita se rendeu, admitiu que errou e agora quer se aproximar das classes sob a bandeira da legalização, buscam o apoio do mais jovens, sabem que os mais jovens não curtem história, mas adoram maconha, mas isso não vai funcionar porque a esquerda vem administrando a liberação da maconha de maneira muito mais efetiva, silenciosa.
Aqui em Porto Alegre, por exemplo, quem é pego com um "baseado" não é preso. Aqui tínhamos até um "Fumódromo", Porto Alegre já foi considerada a cidade que mais se fumava no Brasil, por outro lado temos ótimos profissionais que se formam todos os anos nas faculdades daqui, estranho? Maconha faz pensar, pode parecer apologia mas não é, é uma constatação, de cada dez pessoas que conheço nove fumam e todas tem família, emprego, responsabilidades, assim como nossos pais no século passado, só que ao invés de beberem depois de um longo dia de trabalho, optaram por fumar para relaxar.
Quem fumou e bateu o carro voltando para casa de manhã chapado? Quem bate na mulher porque fumou demais? Quantos assaltos a banco são feitos por gangues de maconheiros? Quantas brigas envolvem usuários de Canabis? Quando vamos parar com a hipocrisia de afirmar que a maconha é a porta de entrada para outras drogas quando temos gente morrendo em hospitais com problemas do cigarro e da bebida, quem queremos enganar?
Como eu dizia, é questão de tempo, não vale a pena a juventude querer sair as ruas agora sendo manipulados pela direita e seus falsos apoios porque na verdade eles tem o mesmo pensamento preconceituoso que o cara do balcão: "Por mim que liberem a maconha, assim eles fumam e morrem tudo". Quem me garante que o ex presidente não pensa assim?

terça-feira, 14 de junho de 2011

Aniversário

É engraçado, no mínimo. A gente acorda e se dá conta que está ficando mais velho, olhamos para nosso corpo e vemos que o dia a dia não lhe faz bem, a gravidade não lhe faz bem, a comilança não lhe faz bem. Vamos perdendo a visão, ganhamos peso sem notar, nossas qualidades se escondem e nossa rabugisse se manifesta até de olhos fechados. É engraçado, no mínimo. Entendo melhor minha mãe hoje, entendo melhor quase tudo hoje, me entendo melhor. Fiquei esperando um ano que esse dia não chegasse, sabia que ele chegaria e chegou. Não é ruim, é estranho, mas é no mínimo engraçado. Me sinto o mesmo menino que corria o tempo todo, me sinto a mesma criança que cresceu esperando o pai entrar pela porta e lhe dar um abraço, sou a mesma criança que ficava triste quando terminava os trapalhões, sou o mesmo e sempre vou ser. É engraçado, no mínimo estranho ver nossa casca envelhecer e saber que nossa mente não nos menti, mantemos a mente viva e atualizada, sonhos novos e velhos criam novas esperanças. Não quero viver mais do que devo viver e sei que tenho muita estrada pela frente. É engraçado, no mínimo. Obrigado aos que lembraram e parabéns aos que esqueceram, afinal de contas a idade chega pra todos não é gente! Beijo Grande.

segunda-feira, 23 de maio de 2011

Janelas quebradas

"Levantei, escovei os dentes, na cozinha o café estava servido, ao sair da mesa minha mãe me deu parabéns. Meus irmãos brincavam no pátio, entrei na brincadeira, todos os vizinhos passavam e diziam: "feliz dia das crianças". Depois de termos almoçado e bem, eu ainda brincando, consegui quebrar a vidraça da casa do vizinho, que lógico foi reclamar pra minha mãe. A véia não teve dúvidas, pegou o primeiro pedaço de pau que viu pela frente e tascou-lhe na minha cabeça, desnorteado, saí chorando e resmungando. O vizinho muito brabo pelo vidro quebrado, continuou enchendo o saco da minha mãe que de raiva me bateu mais um pouco. Obrigado a ir pro quarto, nunca esqueci o dia em que o dia da criança perdeu todo o significado, que até então eu não entendia, mas o que ele se tornou pra mim eu nunca esqueci.
Alguns anos mais tarde, na adolescência, estava jogando bola na rua com outros caras, depois de um chute muito forte a bola estourou a janela daquele mesmo vizinho que me fizera apanhar quando criança. Ele saiu de casa me xingando e me enchendo de desaforos, minha mãe já havia morrido e minha raiva aumentava. Me dei conta que por causa do seu mau humor eu tinha perdido a minha infância, me tornando um cara mau humorado como ele. Me aproximei do portão, o vizinho muito brabo me chamava de tudo, até que ofendeu minha mãe, a partir desse momento meu sangue ferveu, o primeiro soco acertou exatamente seu nariz, com o impacto o sangue espirrou na parede branca da sua casa de merda, o segundo soco arrancou três dos seis dentes que ele ainda tinha na boca, a raiva era tanta que não percebi que seu filho de sete anos chorava e pedia pra que eu parasse de bater no seu pai. Em um momento de serenidade parei de agredí-lo, me abaixei e pedi desculpa pro menino, não queria que ele perdesse sua infância também. Ao levantar ouvi um estouro, uma dor forte na barriga, sentia algo escorrendo, ainda consegui ver o sangue sair, olhei pra frente e vi o vizinho com uma arma e na sua perna uma criança que sem falar dizia, "desculpa".

Os Segredos Em Lata

O segredo está
numa lata vaiza,
Que
insiste em caminhar
com o vento,
Até alguém chutá-la e
descobrir
que
Não há segredo algum
em nenhum momento,
Apenas
ansiedade...
Então o Segredo é?
Não chutar a Lata?
Mas já
abriram a Lata?
Esses malditos,
Justamente,
Esses malditos
efeitos da Lata...

QUEM TEM O "BINLAU" MAIOR?

Sempre adorei História, percebo que ela se repete ao longo dos anos. Para dar início a uma guerra alguém tem que querer o que o outro alguém tem.
Assim como nos contos de fadas onde sempre haverá um vilão, uma princesa e um mocinho.
Sinceramente o Brasil está dando uma atenção desnecessária aos eventos mundiais que estão nos cegando nos últimos dias.
Digo isso porque acredito ser um absurdo o que a mídia determina que vai ser manchete no dia seguinte, mas entendo, se há quem leia, tem mais que falar.

Mas tenho certeza que isso não afeta em nada a vida do seu João ali da vila Tronco, que com as chuvas de inverno chegando e a total falta de oportunidade e de saneamento básico, está prestes a perder um ente querido de sua família, por conta de doenças relacionadas ao sistema respiratório. Quem quer saber o que acontece com seu João?
Os contos de fadas são mais lúdicos e fantasiosos, fazem a gente voltar a ser criança, isso justifica principalmente o que Karl Marx disse de uma sociedade alienada, onde a gente faz o que nos mandam, o que nos impõe.
A nossa presidenta está passando por momentos difíceis, mas quem se importa se é muito mais divertido saber todos os detalhes do casamento do príncipe e da morte do Osama.
Por que alguém em sã consciência vai querer saber alguma coisa relacionada ao Brasil? Quem quer saber dos problemas daqui? Mulheres são brutalmente assassinadas, crianças violentadas, psicopatas soltos sem exame, caixa dois, desvio de verbas e uma série de desastres que assolam nosso país.
Eu também acho legal saber que um príncipe casou, mas o que tem de mais nisso? Talvez o fato de existirem príncipes? Em contrapartida os EUA precisam de uma guerra, não acharia estranho se o Obama nos comunicasse que o Osama é chinês e jogasse uma bomba por lá. Ele não é tão burro assim, seria retribuído a altura pelos chineses.
A maior tristeza é a alienação e a falta de civilidade por parte dos americanos, ou vai me dizer que o certo é matar o Osama? Porque não o prenderam e o mantiveram em cárcere, assim o resto da turma dele passaria anos tentando soltá-lo e não pensado em como fazer uma nova vingança. Os heróis estão em estado de alerta, mas quando não estiveram, americanos são tipicamente americanos, "os melhores".

O que vemos é uma disputa de quem tem o bilau maior, isso chega ser ridículo quando se discute maneiras de salvar o planeta.
O que nos sobra é assistir em nossas poltronas o mundo se acabando, primeiro nossas reservas naturais, depois as nossas florestas, até que a raça humana comece a se despedir do planeta, porque a natureza sempre vence.
É triste ver que nossa evolução se esvai por entre os dedos. Sem corpo não há crime, sem um bebê não há consumação do matrimônio, sem guerra não há paz e sem matéria não há mídia, um precisa do outro para viver.

Enquanto isso o Brasil sofre, de fome e de frio, quem quer saber o que acontece aqui?
Alienação faz bem pra gente, assim vivemos consumindo todas as merdas do mundo e achando graça, batendo palma e pedindo bis.

VIVENDO NA COMPANHIA DAS FALHAS

Um bela manhã de sol: esse foi o dia em que me olhei no espelho e percebi uma falha no meu bigode. Meus Deus, pensei. Como assim, uma falha no bigode? Até ontem tinha cabelo ali.

Não pensei duas vezes, liguei pra minha mulher...
- Vika, Vika, estou com uma falha no bigode!!!
- Calma, amore - me disse ela, e completou: Falhas são normais.
A frase "falhas são normais" me deixou na dúvida, mas segui a vida, mesmo desconfiado de que falhas não são normais.
O dia a dia do homem moderno é cheio de falhas, algumas chegam ser periclitantes ou passam despercebidas, como a falha do meu bigode. Outras nem tanto, como a falha do poder público e judiciário.
Falhas de caráter, como do atropelhador de ciclistas da Cidade baixa; falha de raciocínio, como dos motoristas bêbados dirigindo de volta pra casa após um noite de trago.
Existem falhas que se pode passar a mão, como falha de um goleiro, mas em outros casos as falhas nos tornam mesquinhos - isso quando as usamos a nosso favor.
Falhas podem ser mortais, podem salvar vidas, mas não deixaram de ser falhas. Vocês sabem o que significa uma falha?

Falha é um substantivo feminino. Significa: Fenda, lasca; lacuna, falta. No sentido figurado passa a ser: Deslize, senão, descuido, omissão - raciocínio com falha.


Falhas na comunicação deixarão filhos órfãos em guerras ao longo da história, falhas mecânicas mataram em acidentes aéreos e automobilísticos, falha mental, falha humana, falha, falha, falha.
Poderíamos dizer que falha é a perfeita desculpa para cagadas que comentemos no dia a dia, quem nunca falhou?
Junto com a falha no meu bigode me veio a ideia de que a falha pode nos trazer transtornos muitas vezes desnecessários, porque muitas vezes nossa máquina falha e esquecemos de coisas, mas falhas não justificam nossos erros, porque falhas geralmente prejudicam alguém.

Falhas na política são as mais comuns, todos os tipos de falhas, que de alguma maneira só prejudicam a falha sociedade carente do Brasil, pois ser pobre é uma falha do governo ao não repassar verbas para a saúde, para a educação, para a cultura, para o saneamento básico.
Essas falhas fazem que homens desesperados tenham seus dias de falha e se tornem criminosos, uma simples falha em hospitais públicos causou a morte de muitas crianças em São Paulo.
Cursos falhos criam profissionais falhos, educação falha cria pessoas falhas e isso tudo é aceito por todos nós porque a falha é encarada como um descuido, algo de menos importância que a Bolsa de valores de Nova Iorque, falhas e falha.
A falha no meu bigode aqui no sul pode denominar falta de comprometimento, pois aqui a palavra vale tanto quanto o fio do bigode, mas será que minha falha no bigode vai me tornar um homem de caráter duvidoso? Claro que não, mas não posso falar por todas as falhas que vemos, principalmente no setor prisional, onde a falha da justiça manda pra rua bandidos que assim que passam pela falha segurança pública, se tornam piores e assim voltam a cometer crimes bárbaros.
A falha humana mata, a falha é uma falta, pode ser proposital, pode ser em beneficio próprio (a mais comum no Brasil), mas tanto a falha quanto a falta nunca são favoráveis ao povo em geral, porque pode ter certeza que atrás de cada falha tem alguém ganhando nas nossas costas.
Enquanto procuro tratamento para a minha falha, muitos podem achar que falhas só acontecem com os outros e assim as falhas seguem sua rotina no Brasil, roubando, matando e explorando quem acha que uma falha pode ser simplesmente um erro comum no meio de toda essa lama que tomou conta do nosso país.

O QUE ERA RUIM PODE FICAR PIOR, CHEGOU O OXI...

Quem não usou uma droguinha na vida, quem nunca bebeu umas a mais que o de sempre, quem nunca se escondeu no fundo de casa pra fumar cigarro escondido, e as meninas e seus remédios para emagrecer, só que com álcool misturado, quem não deu uns tapas num baseadinho, quem nunca deu um teco porque estava bebum demais, a hipocrisia é uma das virtudes mais animalescas do homem, não importa se tu já usou ou não usou, o que importa nesse momento não é a nossa vida pregressa ou santa e sim a vida e o futuro de nossos filhos, desse menino ou menina que te chama de pai e que te chama de mãe. O governo não se importa com nossos filhos mais do que nós mesmos.
O que nossos olhos não vêem é o que não se usava na nossa época, aí temos quilos de drogas sintéticas, drogas que mais parecem comprimidos,
alguns são até bonitinhos, parecem docinhos... Mas não são. A cada dia surge, no mínimo, dois viciados em algum "merda" que surgiu da necessidade de ganhar dinheiro, gente pobre matando gente miserável.

Alguém lembra do crack em 1988?
Em 1996 eu era segurança de um bar e tirei um cara do banheiro com uma agulha no braço, mas nos EUA, "melhor lugar do mundo", segundo eles mesmos, já havia registro de crack, e não eram poucos casos. Era tantos e tão forte o consumo que tem filmes e livros com o tema (Crack), New Jack Ctiy é um exemplo.
No início dos anos 2000 o crack começou a ficar popular no Brasil, mas assim como Brasil está para os EUA,
Porto Alegre está para o Brasil, levou um tempo, mas a droga entrou no sul e junto com ela um mar de histórias tristes, não vale nem relatar.
Pois chegou 2011 e junto com o novo ano chega pelo lugar mais improvável o OXI, entrou pelo Acre e já chegou a São Paulo.
O OXI, é a abreviação de oxidado, é uma mistura de base de cocaina, querosene, solução de bateria, cal e permanganato de potássio. Como o crack é uma pedra, só que branca, também se fuma em um cachimbo. Ele é mais barato que o Crack e mata mais rápido também.

Uma visão otimista minha não conseguiria sair depois que eu li sobre essa droga. Eu tenho o costume de falar que o cinema é uma espécie de janela do futuro para nos avisar da mudanças que irão acontecer durante nossas vidas, lembra as histórias tipo" Laranja Mecânica" o aparelho de cd?
Matrix é outro que me dá uma base, tudo que vimos nos filmes um dia termina acontecendo e quando vi os primeiros filmes de zumbis, não vou negar, me borrei nas calças.
Olha o que o Crack ja fez em Porto Alegre nos últimos dez anos. Tenho todos os tipos de amigos até amigos viciados em Crack e tu deve ter também e teus amigos também tem.
E o que acontece quando aparecem irmãs piores do que ela.
O crack tem duas irmãs bastardas, o que torna a droga mais infame e mais forte, ao tempo que a odiamos ela nos destrói, pois entra no âmago de nossas famílias.
Merla e Oxi. Guardem bem esses nomes e torçam para que nunca esteja associado este nome a ninguém que você conheça.

terça-feira, 19 de abril de 2011

SE NÃO STING...

"Não sei viver sem meu preto estimulante", quando ouvi pela primeira vez essa frase acreditei que se tratava de um amor incondicional,
logo percebi que não estava errado e hoje também sou viciado em café.

Pois numa manhã quente ou fria ele nos habilita a sermos mais "ligados".
Do tempo que era chamado de Moca (primeiro nome dado ao café), até hoje, o café faz parte da mesa ou do balcão de todos os lares e padarias do mundo.
Poucos grãos tem o status que o café tem, não seria só pelo hábito de tomar um café amargo toda a manhã, mas principalmente pelo que ele causa em nossos cérebros, nos fazendo pensar e pensar e pensar...
Hoje cedo acordei, como de costume, e fiz um café, enquanto tomava, antes de ir ao banheiro, li o jornal. Estava estampado na capa, "Brasileiros fumam menos, bebem mais e estão mais gordos." Ora, isso todo mundo sabe!

Logo depois, outra manchete: "Criada rede nacional para o desarmamento" isso é palhaçada, mas vá lá. "Escola supera massacre", isso ainda vende alguns jornais?
Natural tomar meu café da manhã, preto, sem açúcar, o amargo me ativa e me mobiliza, não sei explicar a cafeína, mas sei que ela estimula o pensamento. Já era assim nos "Coffes" da França (Luís XIV da França ganhou um pé de presente), onde os intelectuais se reuniam para tomar café e mostrar suas qualidades de pensadores.

O ato de pensar já matou muita gente, principalmente pessoas que pensavam que poderiam fazer coisas que só estimulantes te fazem acreditar ser possível.
Mas tem coisas que precisam ser estimuladas quase que diariamente.Coisas como um fato que passou desapercebido pelo Correio do Povo hoje, até o Juremir esqueceu disso! Talvez a importância do dia de hoje reflita o que nós pensamos, dia 19 de abril, dia do Índio, não o zagueiro em final de carreira, mas o povo em final de existência.
Sim, estou falando daqueles que ficam no Bric da Redenção vendendo bichinhos de madeira ou aqueles que ficam no centro tocando as cordas do violão para dar ritmos ao que meia dúzia de crianças mal arrumadas ficam cantando.
Lembrou agora o que são os índios?
Natural que tenha esquecido. Nós lembrávamos deles no dia de hoje ou quando víamos um filme de cowboy, mas nem assim tu lembra? Talvez eles já não tenham mais importância para a nossa civilização destruidora de planeta, uma pena. Sei que estou longe de ter a dignidade ou a genialidade de um índio, tive um único amigo que era índio e mesmo assim ele morreu há muitos anos, vítima de uma overdose de cocaína.
Mas uma vez o homem branco conseguiu, afinal de contas em tempos que se conversa sobre o aquecimento global, sustentabilidade, reciclagem, ninguém melhor que "homem branco" para falar disso, não, afinal de contas ele que deixou o mundo assim. Tenho um amigo o Jean Schwarz que fez um trabalho lindo com a população indígena, mas isso quem quer saber, afinal hoje é aniversário do rei...
Sei que ninguém vai parar e dar uma flor para um índio hoje, talvez alguém dê algumas moedas, mas não é disso que ele precisa, nem das palavras de "feliz dia do índio", pois a maioria deles não está em redes sociais, mas quem sabe depois de tomar um café preto, forte e amargo a gente não aproveita os efeitos estimulantes do café e paremos pra pensar um pouco em quem realmente é o dono desta terra.
Para terminar minha cobrança diária, a sociedade moderna gostaria de reproduzir uma frase que veio depois do Juruna, sabe quem é? Mário Juruna foi o primeiro deputado indígena que o Brasil conheceu, não demorou muito e ele virou branco, mas isso é outro assunto, a frase é do falecido Casseta e Planeta: " Os índios tem que se RAONI, se não STING."
Bom dia a todos, principalmente aos Índios, eles mais uma vez, vão precisar!

domingo, 17 de abril de 2011

A BOLA FORA DA ACADEMIA

Entendo perfeitamente a homenagem a José Lins do Rego, grande escritor, grande romancista regionalista, assim como Jorge Amado e Graciliano Ramos. Agora, homenagear o Flamengo pelo 110 anos do escritor é muito estranho, mais estranho ainda é homenagear "Ronaldinho Gaúcho" com a medalha "Machado de Assis"!! Meu Deus, agora percebo que a Academia Brasileira de Letras não tem "imortais" e sim velhos esclerosados. Será que acharam que o Ronaldinho é parente distante, bem distante do Machado de Assis? E como homenagear um clube? Não teria ninguém da família do Lins do Rego que pudesse receber essa medalha? Sem falar que acredito que tenha muitas pessoas que deveriam receber essa e outras tantas medalhas. Tião Santos, catador de lixo e leitor voraz de Nietzsche, lê cem livros por mês, todos os livros achados e recuperados do lixo!!! Isso merece uma medalha!
Medalhas devem ser dadas aos heróis ou a alguém que fez alguma coisa importante para seu povo, como o PM Marcio Alves que conseguiu parar o assassino antes que ele pudesse seguir sua chacina, ou tantas outras pessoas que fazem a diferença num país que se resume a samba, sexo e futebol.
Por isso brasileiro não lê, pra que ler? E quando se espera que a ABL vá fazer um gesto nobre, eles me fazem essa "merda" sem explicação.
O Brasil precisa de heróis e não é o Flamengo nem o Ronaldinho, são pessoas como o Tião do lixão, o segundo sargento Marcio Alves, esses são heróis de verdade, gente que pode mudar a história de uma nação com sua força de vontade e seu dever cumprido, não um jogador e uma presidente de clube que almejam dinheiro. Dinheiro esse que sai do bolso do trabalhador que não lê também e acredita que o Maracanã é um templo sagrado. Mas no Brasil tudo termina em samba e pizza, não importa mais nada, a cada dia o meu país é mais e mais humilhado por gestos de grande vergonha, mas a melhor resposta veio do ídolo: perguntado sobre sua literatura favorita o jogador disse que não tinha um livro preferido e ainda pediria aos imortais dicas de leitura... Maurício de Souza e Marvel estarão nessa lista? Lista telefônica vale?
Espero que os esclerosados da Academia reconheçam o erro e que sugiram "Dom Casmurro" para o Ronaldinho ler, afinal de contas de traição subentendida ele deve entender muito bem, mas caso não entenda sempre haverá um bom gibi ou livro de gravuras... E se preparem próximo homenageado vai ser o Tiririca, afinal pior que tá não fica... Ou fica?

quarta-feira, 13 de abril de 2011

RAINHAS E SEUS SERVIÇAIS

Ontem fui assistir o ensaio do novo espetáculo da minha mulher no Centro Cenotécnico, "Ifigênia em Áulis", uma tragédia grega, assim como a vida de muitos hoje. Nunca fui muito dado às tragédias, apesar de amar Nelson Rodrigues e suas tragédias cariocas, mas vendo a Vika ensaiar me despertou o interesse no espetáculo, o que me fez petrificar na porta do ensaio. Fiquei ali parado olhando seus gestos e sua força, um sentimento de orgulho tomou conta de mim, fiquei surpreso ao final da cena quando ela foi aplaudida pelos colegas que ali estavam. Saímos pra comer no Mexicano e conversar sobre o ensaio, meu Deus como é bom vê-la fazendo o que gosta! Vendo-a em ação percebi que a arte da interpretação é um dom e um dom para poucos, a sensibilidade, a impostação de voz, o estudo cênico, o talento, tudo isso ela tem de sobra, mas o que mais me desperta a atenção é sua simplicidade, seu caráter, seu amor pela arte. Certa vez, durante uma discussão sobre prêmios, ela me disse que só o fato de ser indicada já era um prêmio, o reconhecimento do público e dos colegas era um prêmio, o meu amor era um prêmio. Naquele momento percebi como nasce uma estrela e como se forma a sua constelação, sou marrento e sei do meu talento, mas não há comparação, dentro de casa sou apenas um serviçal de Cliteminestra, um homem apaixonado pela atriz, mãe, mulher e amiga, Virginia Schabbach, ou simplesmente Vika, como prefere ser chamada.
Vida longa ao teatro gaúcho, mas principalmente vida longa ao amor e a admiração que sinto por essa estrela que brilha nos teatros de Porto Alegre, mas que irradia luz todos os dias no palco do meu quarto.
O silencio me da medo, no meio do barulho me sinto em casa. O problema disso tudo é que com o tempo estou ficando surdo...

sexta-feira, 8 de abril de 2011

O QUE CHOCA NÃO É UM CHOQUE

Das tragédias que vemos no Brasil diariamente, a que mais me deixa triste são as relacionadas à crianças e mulheres, mas não podemos esquecer das tragédias silenciosas como a violência no trânsito e as mortes nas filas de hospitais, como me lembrou o Vico em outro post. Não vejo ninguém chorando e nem mesmo uma emissora ficar o dia inteiro reproduzindo matérias sobre alguém que morreu de bala perdida ou mesmo sem atendimento na saúde pública, isso não choca mais. Não vejo uma emissora parar sua transmissão para dar voz a quem perdeu alguém para a guerra do tráfico, isso não choca mais.
Sim, é muito triste o que aconteceu ontem no Rio de Janeiro, mas o abalo é diretamente relacionado a um fato inédito, como uma invasão a um morro, como um terremoto, como "Um dia sem mexicanos". Um fato que nos choca, mas que não é um choque, porque choque nos tira o ar, faz com que se tome alguma providência, e que no caso do Rio, não tem mais como se fazer nada, o bandido morreu e hoje faz um dia da morte de todas essas pessoas, mas é só isso. Os governos não sabem o que fazer nessas horas, as pessoas não sabem o que fazer nessas horas, a polícia não sabe o que fazer também. A imprensa sabe explorar as imagens de mães que acabaram de perder seus filhos, pais que sofrem por não poderem contar com ninguém. Estamos sós e a única coisa que pode nos salvar é a educação.
Um dia assistindo a uma aula de história, minha professora me disse que os latinos são emotivos e os saxões frios como pedra, por isso essas tragédias eram comuns nos países do norte e na Europa.
Voltemos a televisão, ela mostrando tragédias pelo mundo alimenta a cabeça de monstros seguidores de religiões malucas que absorvem doentes e maníacos, ex drogados e ex bandidos sob o tal testemunho da adoração as palavras que se encontram no livro, considerado por eles, sagrado.
Não acredito que todos os religiosos fazem parte desta loucura que se tornou a religião, mas boa parte de seus seguidores só entram nos templos por estarem com a corda no pescoço, se estivessem em outra situação será que ali estariam?
São tantos assassinos e isso não choca mais a sociedade, por que essa tem sua parcela de culpa e leva choque toda vez que acontece perto da sua casa, mas não se engane, acontece perto, mas dificilmente dentro, ou tu acha que isso aconteceria numa escola particular do Rio?
O que vemos diariamente é pobre matando pobre, é gente se ferrando pela sua origem, gente morrendo por nada, gente morrendo por não ter um lugar melhor pra viver, não existe segurança, nem escolas, nem oportunidades. O que estamos vendo é o genocídio da raça humana, por ganância.
Não duvido que apareça outro idiota com mentalidade duvidosa e que aconteça outros ataques como esse que aconteceu no Rio ou que alguns cineastas queiram reproduzir a tragédia em um filme para representar o Brasil no próximo Oscar, isso não choca, mas se o filme ganhar seria um choque.
Nossas lágrimas são forçadas porque somos forçados a ver e rever as imagens, diante de tanta tristeza até o mais bruto se comove, isso choca, mas não é um choque, isso pelo simples fato de que não aconteceu em nossas vidas e sim na vida dos outros porque se fosse na nossa cidade, com nossos filhos, estaríamos em choque.
Força às famílias do Rio.

quinta-feira, 7 de abril de 2011

RAINHAS E SEUS SERVIÇAIS

Ontem fui assistir o ensaio do novo espetáculo da minha mulher no Centro Cenotécnico, "Ifigênia em Áulis", uma tragédia grega, assim como a vida de muitos hoje. Nunca fui muito dado às tragédias, apesar de amar Nelson Rodrigues e suas tragédias cariocas, mas vendo a Vika ensaiar me despertou o interesse no espetáculo, o que me fez petrificar na porta do ensaio. Fiquei ali parado olhando seus gestos e sua força, um sentimento de orgulho tomou conta de mim, fiquei surpreso ao final da cena quando ela foi aplaudida pelos colegas que ali estavam. Saímos pra comer no Mexicano e conversar sobre o ensaio, meu Deus como é bom vê-la fazendo o que gosta! Vendo-a em ação percebi que a arte da interpretação é um dom e um dom para poucos, a sensibilidade, a impostação de voz, o estudo cênico, o talento, tudo isso ela tem de sobra, mas o que mais me desperta a atenção é sua simplicidade, seu caráter, seu amor pela arte. Certa vez, durante uma discussão sobre prêmios, ela me disse que só o fato de ser indicada já era um prêmio, o reconhecimento do público e dos colegas era um prêmio, o meu amor era um prêmio. Naquele momento percebi como nasce uma estrela e como se forma a sua constelação, sou marrento e sei do meu talento, mas não há comparação, dentro de casa sou apenas um serviçal de Cliteminestra, um homem apaixonado pela atriz, mãe, mulher e amiga, Virginia Schabbach, ou simplesmente Vika, como prefere ser chamada.
Vida longa ao teatro gaúcho, mas principalmente vida longa ao amor e a admiração que sinto por essa estrela que brilha nos teatros de Porto Alegre, mas que irradia luz todos os dias no palco do meu quarto.

terça-feira, 5 de abril de 2011

QUEM PRECISA DE POLÍCIA?

Tem uma frase que eu gosto muito, "polícia e táxi quando mais se precisa, não se encontra" é praticamente um dito popular. Quantas vezes precisamos da polícia e ela não aparece?
A bandidagem tá solta pelo mundo, a coisa ficou mais séria com a invenção da publicidade e da novela das oito, junta isso com a dependê...ncia da droga e temos uma sociedade alienada e doente.
Muitos podem até dizer: "a droga eu entendo, mas a novela e a publicidade?", pois parem pra pensar um segundo e imaginem uma pessoa de origem humilde que não tem pai nem mãe, sem educação ela não consegue enxergar um futuro, mas tem uma televisão dentro do seu quarto e pela televisão ela fica sabendo que existe um milhão de coisas para se consumir, vê a menina da novela gastando por conta. Imagina essa mesma pessoa indo ao shopping, vendo todos aqueles carrões e todas aquelas mulheres lindas e bem vestidas. Imagine se essa pessoa muitas vezes humilhada pela sua origem, imaginou? Pois bem, muitas dessas pessoas vão se tornar marginais, não todas, mas a maioria vai e não me venham com senso disso ou daquilo, estou falando de coisas que vivo na pele, vejo diariamente isso acontecer no lugar onde fui criado, não sou um demagogo querendo me aparecer dizendo que tive uma vida difícil e venci, estou dizendo que apesar de não ter uma explicação lógica é possível entender essas pessoas, uma vez no crime nunca mais será vista com bons olhos pela sociedade, até mesmo eu já fui vítima desse tipo de pensamento.
Mas ainda bem que existe a polícia civil e militar para nos proteger, afinal quem não precisa de segurança!! Vou relatar agora casos que acontecem aqui em Porto Alegre e pelo Brasil a fora.

Preso policial militar suspeito de sequestrar garota de programa em Porto Alegre; Mais dois policiais, que estão na lista de procurados da Operação Guilhotina; Notícias de policiais gaúchos envolvidos em crimes, como assalto a banco e sequestro; Policial militar suspeito de ter assassinado a tiros o boxeador Tairone Silva, de 17 anos; Um soldado da Polícia Militar foi preso por contrabando de agrotóxico; Um policial militar foi preso por assaltar pedestres e quase atropelar um outro policial com uma moto; A corregedoria da Polícia Militar apura o envolvimento de um membro da corporação em um suposto caso de abuso sexual contra adolescentes; Um policial militar foi preso em flagrante após roubar um carro e assaltar pedestres em bairros da Zona Norte do Rio; Foi preso o último dos sete soldados da Polícia Militar de Manaus envolvidos na tentativa de assassinato de um adolescente de 14 anos.

Alguém lembra do homem que foi morto pela brigada há alguns anos, por engano, no bairro Partenon? Ou do menino que foi morto por um PM em São Leopoldo com um tiro de escopeta na cara?
O que estamos vivendo é uma crise, que afeta nossas vidas. Não vejo a população saindo as ruas para aumentar o salário dos professores, não vejo a população exigindo melhorias na segurança pública, a não ser que um parente morra, não vejo a população saindo as ruas para que o Guaíba seja despoluído, não vejo manifesto em prol a nada que seja de utilidade à população de um modo geral. Vejo algumas pessoas usando passeata como meio de diversão, sim, foi isso que eu vi nas redes, vamos lá fazer a passeata depois vamos tomar uma cerveja!!! Virou uma festa!!!
Os professores são a base desse processo de formação, vivemos um dilema de várias gerações sem educação, o resultado está aí estampado nas nossas caras e nas manchetes. Sensacionalismo que consumimos diariamente na empresa televisiva e escrita.

Nosso problema é maior do que parece, estamos numa bola de neve, perdidos e sem direção, mas a solução, ah, essa é simples, EDUCAÇÃO, mas para isso precisamos qualificar professores com melhores salários e depois qualificar policiais e só assim teremos uma sociedade que valoriza as pessoas e não seu metro quadrado de terra.

Nunca escrevi tanto, nem espero que muitos leiam, mas está aqui em forma de palavras a realidade da nosso medíocre e pobre sociedade, nada vai mudar e vamos ver a civilização voltar a morar em cavernas? acham que estou brincando?
Quando a sociedade perde a segurança, vai junto a civilização e assim voltamos ao nada, nossa polícia é falha por falta de recursos, nosso ensino é falho por falta de recursos, mas se todos sabem disse em Brasília porque nada muda? Por que o salário de um deputado tem que ser maior do que o salário de quem vai ensinar o povo a votar?
Espero não precisar de polícia tão cedo, mas afinal a gente precisa de polícia ou de segurança?

sexta-feira, 1 de abril de 2011

A NOVA FACE DO CAPETA

Tivemos vários descendentes diretos do capeta sobre a terra, talvez o mais famoso deles, até pela recente passagem por aqui, seja Hitler, mas como os espíritas dizem, existem as reencarnações e essa foto que ilustra minha crônica é de um verdadeiro cão chupando manga!! Um homem que se diz preocupado com a moral e... os bons costumes, mas isso é lobo em pele de cordeiro, isso é um tiririca sem graça, um homofóbico, racista, preconceituoso, machista e um falso moralista. Já vi "Jair Messias Bolsonaro" cometer crimes contra tudo e contra todos que se oponhem as idiotices que ele acredita, algumas platéias acham graça, muitos comentam nos blogs e sites de relacionamentos o quanto ele é idiota, mas não podemos esquecer que os grandes monstros sempre foram idiotas enquanto pequenos e sem força. O que nós temos aqui é um animal sem precedentes, um tirano que vem com ideias de ditadura, com rosto bonito tipo Fernando Collor de Mello, com olhar triste como o Ricardo José Neis, apaixonado como Antonio Pimenta Neves. Não podemos nos deixar enganar, desta vez o mau vem do Rio de Janeiro, cidade maravilhosa revestida de glamour e sexo à flor da pele. Esse homem não é um coronel do interior da Bahia, o que temos aqui é um monstro que ocupa um lugar onde deveria estar um político sério, como ele foi eleito em um lugar onde todos são mestiços? Tenho certeza que seu discurso mudou depois que ele entrou no poder, mas ele não está só, tem filhos, sobrinhos e outros parentes em cargos públicos.
Meu medo não é dele, mas dos idiotas que nele acreditam, pois esses serão capazes de fazer merdas em nome de coisas que acreditam serem as certas, assim como os cavaleiros do Santo Inquérito, uma luta sem vencedores. Em um país que diariamente matam mulheres, crianças, negros, gays e velhos, um sujeito como esse deveria ser preso junto com o Francisco de Assis Pereira, "o Maníaco do Parque" e os Nardoni, pois esse era pra ser lugar de gente que não presta, mas infelizmente o Brasil é um país sem memória e os mesmos que acharam engraçados um idiota que usa a máquina pública para divulgar racismo e homofobia e todo o tipo de preconceito, serão os mesmo a elegerem um homem que pra mim é a reencarnação do capeta.
Quem realmente escolhe nossos políticos, nós ou eles mesmos, tu vai cair no velho conto do rosto bonito?

sábado, 19 de fevereiro de 2011

Mc mal

Hoje no Correio do Povo está estampado uma foto do Mc Donalds da Andradas fechado por ter entre seus frequentadores, nada mais nada menos que baratas e ratos, sendo que esse são mais que clientes, são moradores, não só do prédio onde fica a lanchonete, mas de todo centro de Porto Alegre.
O fato do Mc Donalds ter baratas e ratos não me ...surpreende, pois a baixa qualidade das coisas de algumas franquias é absurda, o que mostra mais uma vez que merda de sociedade maluca que temos aqui na capital. Lembro quando abriu o Mc do Rua da Praia Shopping, eu mesmo procurei emprego, tinha uns quatorze anos de idade e a resposta não poderia ser pior: como eu morava longe não entrava nos planos da multinacional. Percebi que naquela época não haviam muitos negros também, coisa que foi mudando com o passar do tempo. Nos Estados Unidos o Mc é uma rango "chinelo" que praticamente só tem nos guetos, não muito diferente do Habbib's, que em São Paulo é outra chinelagem. Onde eu quero chegar com todo esse papo? Nós temos o costume de dar uma importância tão grande a tudo que vem de fora, e aí falo de tudo ou quase tudo que possamos imaginar. O Mc Donalds chegou aqui com uma pompa de multinacional, mas ninguém fez questão de fazer um estudo sobre os males que poderia fazer a saúde, assim como não fizeram um estudo para saber que males poderiam nos fazer as músicas enlatadas que recebíamos nos anos oitenta, assim como a moda e outras tantas coisas que todos podem e devem me ajudar a lembrar.
O que me deixa muito chateado é com a nossa sociedade gaúcha que sempre teve orgulho de não ter virado uma São Paulo, quando dizia que "aqui pro sul não vinha nordestino", mas vem tênis coreano e Mc Donalds, a prova viva do nosso bairrismo. O comercial da Oi é um exemplo vivo disso, aceitamos tudo que vem de fora do país, como se fosse realmente acrescentar alguma coisa em nossas vidas e menosprezamos o resto do país e às vezes até mesmo o nosso próprio povo, por que é interiorano. Não lutamos na guerra e damos mais valor a Argentina. Somos todos preconceituosos, cada um de nós, pior, somos metidos a besta, basta olhar nas publicações, onde cada um arrota mais grandeza que o outro. Sei que vou criar alguns inimigos, mas a vida é assim mesmo, tenho certeza que muitos voltarão a comer no Mc e vão se achar pessoas especiais por comerem um rango de americano, ou vão passear na Goethe para comer no Habbib's, mas convenhamos, eu prefiro muito mais o xis da Lancheria do Parque, pois se aparecer uma barata tenho certeza que o B.A. mata.

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Entre o Céu e o Inferno

Tem coisas que foram implantadas nas nossas cabeças que, às vezes, demoramos uma vida inteira pra desmistificá-las do cérebro.
Coisas que não combinam como melancia com leite, comida doce com salgada e por aí vai. Sexo é um tabu na vida da maioria das pessoas e uma das tantas coisas que afligem raça humana, mas nada se compara a relig...ião. Por religião já se matou, se roubou e se traiu, claro que motivados pela ganância, dinheiro e poder.
A religião tem na sua força maior a fé e o medo, dizem que a fé move montanhas, mas todos nós sabemos que o medo também, o covarde é mais perigoso que o valente.
Há séculos atrás, o medo da ciência fez com que a religião matasse em nome da fé, o que é um absurdo. Mas não era bem em nome da fé que a religião estava sendo usada e sim em nome da tal ganância e do poder.
A religião católica que nos dias de hoje perde espaço para outras religiões, foi uma assassina sem escrúpulos e sem alma durante anos, matando pessoas que acreditavam em outras religiões ou que não acreditavam em nada. Transformando pessoas simples em alvos de fogueiras e tudo em nome de um Cristo, meu Deus! Hoje com a globalização e os contatos diários com seitas, crenças e tudo mais, percebo que a fé se tornou um mercado que mexe com milhões e com a vida de outros milhões de pessoas.
Pessoas dizendo para se colocar um copo d'água em cima da televisão para ser abençoada... abençoada por quem?
Nós transformamos a religião em negócio e a fé em moeda. Não se compra paz, não se compra fé.
Um dia me perguntaram o que todas as religiões tem em comum, respondi que só poderia ser a fé, pois é nisso que acredito. Aos católicos e evangélicos que acreditam em vida após a morte, lamento por essas pessoas, aos que acreditam em padres e pastores, lamento por elas também. Padres fazem sexo com crianças, pastores fazem orgias em hotéis com devotas, que participam daquilo porque são humanos, não há nada de errado em não acreditar nessas religiões, o que não podemos perder é a fé, o que não podemos é deixar de acreditar.
O ser humano consegue colocar-se em uma posição tal que acredita ser a melhor coisa que existe na terra, e não é! Não somos melhores que um cachorro e os que acreditam que são, vai um lembrete, quando se morre vira-se adubo, igual a tudo o que é vivo e esse é o seu legado, morrer e dar origem a outra vida em forma de adubo.
Não posso deixar de falar de religião, por mais que muitas pessoas possam achar que estou blasfemando, não me importo com isso, igrejas não pagam impostos, eu pago.
Celibato é uma idiotice, que não nos leva a lugar algum, a religião católica atrasou a humanidade de um crescimento notório. Os incas e os astecas são os mais evoluídos, eles não eram católicos. Lutero largou de mão a religião católica por não concordar com os abusos, a França bateu de frente com os católicos e assim, muitos outros o fizeram.
Hoje a religião católica, que perde força a cada dia que passa, volta atrás em relação a coisas que ela mesmo dizia serem "palavras de deus", coisas como usar camisinha, aborto, estupro, homosexualismo. Isso tudo era tabu na religião e veja hoje, até na internet:eles tem página no Facebook e agora tem um programa para que tu, através do celular, comece a guardar teus pecados para depois ter ideia de quantos fez durante o tempo que não se confessou... Quem se confessa hoje em dia?
Meus amigos, assistam o filme " O Crime do Padre Amaro", leiam "O Santo Inquerito" de Dias Gomes, não posso admitir que mais e mais pessoas passem uma vida sobre um manto de mentiras da fé, que é a esperança em forma de energia, pois é isso que somos, energia.
Minha fé na ciência é maior do que minha fé nas pessoas que se dizem religiosos, sigo firme nas palavras de Gilberto Gil, parodiada na língua do povo...
"Uma com fé eu dou, a segunda custuma falha"

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Assim caminha a humanidade

É triste ver o estado que chegamos, percebo que o Brasil se ajuda em momentos de crise, como essa que vemos nos noticiários da tv.

O que deveriámos realmente ver nesse momento é que estamos a um passo de destruir a única coisa que nos resta, nossa própria vida.
No dia que passou pela cabeça de algum cientista maluco que o homem, o in...significante homem, poderia destruir o mundo, o mesmo se achou um deus, o que não somos.
Não há como lutar contra a natureza e ela vem nos dando provas, como se precisasse, há anos, há milhares de anos.

De tempos em tempos a natureza mostra seu poder e aí vemos crianças sem lar e familiares chorando suas perdas materiais. Onde já se viu um morro destruir uma vida inteira de consumisto exacerbado! Pobres mortais que se acham donos do planeta...
O que me deixa triste é saber que em abril o lixo estará entupindo bueiros novamente, estaremos jogando lixo nas ruas, comprando o que não precisamos, destruindo a natureza para construir arranha-céus, comprando carros para andarmos sozinhos nas noites de sábado enquanto bebemos, fumamos e cheiramos, sem sequer pensarmos onde jogamos a bituca de cigarro ou mesmo a latinha de cerveja.
Quem se preocupa em ajudar os desabrigados nesse momento deveria também lembrar-se que durante o ano, cada vez que eles jogarem lixo nas ruas, estarão provocando suas próprias mortes no verão seguinte.
Temos que nos ajudar nesse momento difícil, mas temos a obrigação de nos lembrarmos que isso é nossa culpa, só nossa, não dos menos informados, não dos menos favorecidos, mas de todos, todos que circulam arrotando suas façanhas, todos que se julgam melhores que os que moram lá nas areas da tragédia.
A tragédia se mostra com a nossa cara, com o nosso sofrimento, mas principalmente com a nossa falta de responsabilidade, não podemos achar que o fato de mandar uma cesta básica ou alguns litros de água a quem precisa nos isenta da responsabilidade de um todo, somos parte de um ciclo que está prestes a acabar, como já acabou algumas vezes.
Aos que não se acham na necessidade de ler esse texto, não o faça, não se sinta responsável, durma tranquilamente em seu apartamento com circuito interno de vigilância e seu carro de luxo, volte pra sua vida maravilhosa, porque quando tudo der errado você terá pra onde fugir. Recicle seu lixo, não o jogue no chão, lembre sempre que a vida é um ciclo e pense nas próximas gerações.

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Quando o asfalto chegar

Quando Leonel chegou à Barra, o vilarejo ainda não pertencia ao exército, apesar de muitos não acreditarem nisso. Seu Leonel comprou, a muito custo, um pedaço de terra na única rua que ligava o vilarejo ao resto do mundo, pelo menos por terra era só esse caminho. Com a chegada de novos moradores, pescadores e milicos, o vilarejo cresceu, não muito, mas o suficiente para que muitos carros e caminhões passassem quase que diariamente na frente da casa de seu Leonel.
A família de seu Jorge chegou pelo rio e por conta do valor baixo do terreno, foi morar no lado da casa de seu Leonel, tornaram-se vizinhos. Seu Leonel era agricultor e seu Jorge pescador. A família de seu Jorge foi crescendo com a chegada dos gêmeos e depois da pequena Nina, já a família de seu Leonel não prosperava tanto, mas também seguia seu rumo natural. As pedras e a poeira que subia todo santo dia na frente das casas, não estava sendo um problema, até o dia em que seu Leonel teve que levar sua mulher ao posto de saúde com falta de ar. Chegando ao posto, a enfermeira foi enfática:
- Acho melhor o senhor levar sua mulher no hospital, não temos recursos suficientes para atendê-la.
Com a ajuda de vizinhos e alguns parentes, seu Leonel conseguiu pagar um enterro descente para sua esposa, que partiu vítima de enfisema pulmonar. Em casa tudo tinha mudado, havia silêncio onde antes havia murmúrio, havia frio onde nunca houve nada, mas a tristeza de seu Leonel era grande. Sua lavoura não andava bem, uma seca massacrava cada sabugo que conseguia respirar mais de uma semana, sua vaca estava magra demais para dar leite, até para o seu café da manhã. A menos de dois metros dali, na casa ao lado, se ouvia a família de seu Jorge comemorando e sorrindo quase que diariamente. Pescador de talento, seu Jorge nunca voltou para casa de mãos abanando, era muito cordial e amigo de todos.
Os demais moradores da vila, não compraram os terrenos, acabaram invadindo as terras cobertas pelo matagal. A vila se organizou, chamaram a companhia de energia elétrica e mandaram fazer a instalação de luz. A prefeitura, muito esperta, arrumou “ligeirinho” a rede de esgotos e de água encanada para poder ganhar sua parte através do imposto. Agora, até caminhão de lixo seletivo passava, mas a poeira maldita, que levou o amor de seu Leonel, ah, essa continuava a deixar as janelas de todas as casas fechadas, tornando um segredo a vida de quem dentro delas habitava.
Seu Leonel, apesar da poeira, gostava de ficar nos finais de tarde tomando chimarrão e vendo a vida passar, pelo menos o que ele conseguia através da poeira. Os anos foram se passando e a cada dia, havia mais movimento no vilarejo. Todos os finais de semana, pessoas de cidades vizinhas vinham usufruir das cachoeiras e lagos da Barra. O rio já era famoso por ter os melhores viveiros de peixes da região, até mesmo seu Leonel pensou em virar pescador, mas a vaquinha engordou e a plantação voltou a crescer e prosperar. Seu Leonel acreditava que sua vida havia melhorado, mas ainda faltava alguma coisa para que ela se tornasse absoluta, uma vida digna de quem acordou por cinqüenta anos na beira de uma estrada de chão que ligava o rio da Barra ao asfalto da auto-estrada. Faltava a dignidade de deixar sua janela aberta durante os dias quentes de verão e nas noites, entre os mosquitos e o luar mais lindo do mundo.
Uma manhã, seu Jorge voltou mais cedo de sua pescaria. Recebeu a ligação de sua esposa lhe informando, aos berros, que sua pequena e única filha mulher, Nina, estava doente. Rapidamente levaram a menina ao hospital mais próximo onde foi diagnosticado o mesmo mal que levara a mulher de seu Leonel. Como a menina estava em estágio recente da doença, foi medicada e depois de alguns dias voltou para casa sã e salva. Na manhã seguinte, com a ajuda de seu Leonel e de outros moradores, houve um protesto diante da prefeitura contra aquela poeira maldita. O prefeito prometeu abrir uma licitação de caráter emergencial para resolver o problema dos moradores.
Seu Leonel, seu Jorge e os demais vizinhos, mediram a rua onde necessitava asfalto e enviaram a metragem ao prefeito, que assinou, na hora, o projeto de construção da via pública do vilarejo. Aquele dia foi marcante, todos faziam planos, havia boatos de que, com a chegada do asfalto, viriam comerciantes e um tal “crescimento absurdo” para aquele vilarejo modesto chamado “Barra”. Seu Leonel estava em êxtase, foi na vendinha de seu Romão e pagou, em leite, uma rodada de cachaça para todos. Seu Jorge brindou junto.
- É Leonel, tu vê como são as coisas, quando tua mulher morreu , “que Deus a tenha”, a gente nem pensava em se organizar para conseguir o que a gente queria. Faltou um pouco de atitude naquela época, mas quando minha filha quase morreu, não faltou uma mão para que essa idéia seguisse adiante.
Leonel lembrou da sua mulher e não conseguiu conter o choro, Jorge e Leonel abraçados choraram a vida e a morte no mesmo gole. Dois dias depois surgiram, ao longe, entre poeira e solidão, caminhões da empreiteira escolhida para a realização do que seria “o maior avanço da civilização”, depois da garrafa térmica para aqueles que adoravam chimarrão e odiavam a poeira. Era para mais de cinco caminhões e máquinas retro escavadeiras, os homens com seus uniformes e capacetes davam ao lugar a idéia de que ali o mundo estava prestes a mudar. O que tantas noites tirou o sono dos moradores, agora estava prestes a se tornar realidade.
Seu Leonel saiu à frente de seu terreno para receber com aplausos, juntos com os outros moradores, as máquinas da nova obra do vilarejo. A segunda maior, pois a primeira tinha sido o muro do cemitério. Esse muro servia não só para determinar onde começava e acabava o mesmo, como evitava que em dias de temporais muito fortes os corpos escorressem pelo morro abaixo e viessem parar na rua onde o asfalto não havia chegado. Mas seu Leonel não gostou quando ouviu a seguinte frase do encarregado da obra:
- Vamos começar lá por baixo, são quinhentos metros de asfalto e de boca de lobo, tenho certeza que assim terminaremos em três dias. Vamos lá pessoal!
Quinhentos metros, o número de alguma maneira deixou seu Leonel desconfortável, mas estava feliz pois via com seus próprios olhos o que o ser humano era capaz de fazer. Ele levava água gelada para os operários e a mulher do seu Jorge levava bolinhos e bolachas, tudo para que eles trabalhassem com amor e bem rápido. Dizem as más línguas que a mulher do seu Jorge adorava ouvir as histórias que os obreiros contavam, enquanto comiam tudo que ela tinha para dar. Ao final de uma semana, os olhares que haviam brilhado como a negra cor do asfalto, que tomava a rua e deixava as casas mais bonitas do que nunca, se transformaram em desconfiança, principalmente de seu Leonel. Ele percebia que a obra ainda não tinha chegado à frente de sua casa e, pior, dava a entender que nunca chegaria. Em um dia quente de sol escaldante, seu Leonel percebeu que algumas máquinas estavam de partida e saiu correndo atrás delas para tirar satisfação do que realmente estava acontecendo.
- Ei, ei, ei!! Voltem aqui, faltou a minha parte! Faltou terminar aqui na frente da minha casa! Voltem, voltem, por favor voltem!
Seu Leonel olhou para trás e viu todos os outros moradores festejando diante de suas residências as maravilhas do asfalto. Ao perceberem a tristeza de seu Leonel, foram condescendentes com ele e começaram a chamar os caminhões, tudo sem sucesso. Na manhã seguinte, seu Jorge e seu Leonel foram à prefeitura para reclamar e se depararam com uma situação no mínimo constrangedora: a medida que eles mesmos haviam mandado para a prefeitura, não incluía a última casa que havia sido construída dias antes, fruto de mais uma invasão. Como os engenheiros mediram de baixo para cima, a casa do seu Leonel estava fora dos quinhentos metros de asfalto, sendo assim, não havia erro por parte da empreiteira e muito menos da prefeitura.
- Veja bem seu Leonel, não sei realmente o que eu poderia fazer para resolver o seu caso, uma nova licitação dependeria de aprovação dos vereadores que nesse exato momento estão resolvendo problemas de outras regiões. Sua demanda voltaria para o final da fila, sendo assim, levaríamos mais ou menos uns dez anos para resolver o seu problema. Mas quero que o senhor saiba que estou aqui para ajudá-lo no que for possível!
- Estou vendo! Mas deve haver alguma coisa que possamos fazer para amenizar esse problema secretário. - respondeu seu Leonel.
- Claro que sim, vou ver isso com meu pessoal e amanhã ligamos para dar um retorno, ok¿ Agora, se me derem licença, tenho outras pessoas para atender. – disse, conduzindo-os até a porta.
Nas semanas seguintes, diariamente, às oito da manhã e às cinco da tarde, passava o caminhão pipa para molhar o pedaço da rua que não tinha asfalto. Ao final da segunda semana isso não aconteceu mais, seu Leonel tentou organizar um grupo que fosse conversar com o prefeito, mas infelizmente a única parte que não tinha asfalto era onde ele morava. Isso desmotivou os moradores que já usufruíam da rua sem poeira.
Seu Leonel se tornou um homem de cara fechada, achou que tinha sido traído. Um dia, bêbado, bateu no rapaz que invadiu o último terreno que tinha na rua, o primeiro a ser asfaltado, causando péssima impressão nos outros moradores que começaram a enxergá-lo como um velho ranzinza. Ele, por sua vez, terminou por acolher o estigma. Hoje, quem vai à prainha da Barra, pega muita poeira pela estrada, são mais de dez quilômetros de estrada de chão e quinhentos metros de asfalto. Logo depois da curva a prefeitura colocou pedras de paralelepípedo, imaginando que estavam fazendo para o lado certo, mas infelizmente erraram o lado novamente. Dessa forma a casa do seu Leonel se tornou referência para os turistas:
“ Para chegar na prainha da barra é simples: segue pela estrada de terra até a casa do véio Leonel, que é a ultima com poeira, depois começa o asfalto.”
O tão esperado “crescimento absurdo”, com comércio e lojas, não chegou, preservando boa parte da história do vilarejo. Seu Jorge, hoje, líder comunitário e guia turístico, segue feliz da vida e volta e meia faz umas festas para celebrar as suas conquistas, sempre convida seu Leonel, mas esse não quer saber de nada. Quando convidado para qualquer coisa, a resposta é sempre a mesma:
- Vai pra puta que te pariu.


Fim.

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

O Escritor e a Atriz

Uma simples carta pode mudar a vida dos que não esperam mais nada dela...

Olá sou escritor do interior e me disseram que a senhorita poderia me ajudar na carreira.
Meu nome é Raul, sou um homem desiludido com a profissão, não tenho filhos e nem onde morar, não tenho amigos nem mesmo um cachorro a quem chorar minhas mágoas.
Moro no fundo de um terreno baldio. Me alimento quando tenho fome e o que estiver disponível.
Meu talento, ah esse nunca me abandonou, diferente das milhares de mulheres que tive e que não acreditavam nele.
Sempre quis conhecer mais pessoas que trabalham com arte. Um dia vi num recorte de jornal o retrato de uma linda mulher, parecia um copo de leite. Era uma atriz somente de teatro, apesar de achar que atores são de tudo, de tudo onde se precisa de interpretação, mas entendi quando li sobre ser atriz somente de teatro.
Gosto de escrever e tenho alguma habilidade para isso, nunca soube se o que escrevia era bom ou ruim, como não tenho amigos e as pessoas que conhecia eram todas analfabetas, não tive esse feedback das minhas escritas.
Espero que me desculpe por aparecer assim sem avisar, mas tenho certeza que se a senhorita me der um segundo de atenção verá em mim mais que um homem. Sou bem mais que isso, sou um ser que pensa, que ama e que sofre.
Como estava lhe falando, quando vi aquele recorte de jornal e aquela mulher que nele repousava, meus olhos brilharam, mas isso foi há muito tempo atrás, nunca mais vi ela em lugar algum.
Certa vez, anos mais tarde, enquanto tentava comprar uma tv, o vendendor trocava de canal e de repente ela surgiu como um anjo, seu rosto branco parecia mais branco que de costume. Suas roupas eram infantis, bem diferente da primeira vez que a vi, mas seu olhar era o mesmo, o que dispertou em mim novamente a paixão.
Sei que minhas desculpas para me aproximar dela não são as melhores, mas também não tenho porque me desculpar. Nunca vi ela, mas sempre lhe amei, do meu jeito, a distância, com paciência de quem sabe que o que é seu, está guardado.
Sabia que o dia iria chegar e junto com esse dia minha sorte mudaria, não seria mais visto como um qualquer, não seria mais um a passar pela fome de vida que rege os seres humanos sem alma.
Sabia que a paixão e o eterno amor estariam ao meu lado em forma de uma bela e branca mulher de olhos pequenos e coração grande, de amores impossíveis e de sexo vibrante, sei que estou sendo chato com a senhorita e mais uma vez queria me desculpar, prometo ser mais objetivo daqui pra frente, apesar de não saber como dizer isso normalmente, acredito que sim é possível e por isso venho a sua procura, da senhorita, apesar de todo seu conhecimento, não quero nada de trabalho, quero apenas saber que na minha vida um dia conheci e conversei com uma diva, uma musa do teatro, não saberia terminar essa conversa de outra maneira a não ser a que lhe direi agora
Senhorita Carlota Back aceitar casar comigo para todo sempre até que a morte nos separe?
Beijo Te Amo

Resposta:

Prezado Sr. Raul, tua sinceridade me toca, como tocado somos todos os que trabalham com arte e que vêem no coração humano mais que veias e sangue. Vemos um combustível de vida, de arte, de beleza, de sentimento, de ar, de pulsar, de respiração... Tuas palavras me tocaram.
Sou um ser humano cheio de erros, incompreensões, chatice, egoísmo, mas com uma sensibilidade ímpar para perceber um ser humano talentoso, sensível, interessante, vibrante e pelo jeito com enorme capacidade de escrita como percebo em vossa senhoria.
Adoraria crescer ao seu lado, me tornar uma pessoa melhor, mais iluminada, mais feliz..... Temo que isso possa acontecer quando o frente a frente surgir,
também já esperei pacientemente a chegada daquele que meu intímo suspeitava ser uma pessoa pra lá de especial, acalentei esse momento por anos.
Vendo-o de perto, respirando informações, acalentando sonhos, hoje ISTO surgiu.
Aceito seu pedido de casamento e prometo que ele não será só especial
será uma beleza semelhante a arte que a gente acredita e para o qual a gente vive. Meu amor a arte se equipara ao amor que posso lhe oferecer pois ambos andarão juntos.
Estou indo ao teu encontro nesse momento, me aguarde.
Estou de blusa com flores e bermuda branca.
Só peço que me ame sempre que eu sempre te amarei.