segunda-feira, 23 de maio de 2011

Janelas quebradas

"Levantei, escovei os dentes, na cozinha o café estava servido, ao sair da mesa minha mãe me deu parabéns. Meus irmãos brincavam no pátio, entrei na brincadeira, todos os vizinhos passavam e diziam: "feliz dia das crianças". Depois de termos almoçado e bem, eu ainda brincando, consegui quebrar a vidraça da casa do vizinho, que lógico foi reclamar pra minha mãe. A véia não teve dúvidas, pegou o primeiro pedaço de pau que viu pela frente e tascou-lhe na minha cabeça, desnorteado, saí chorando e resmungando. O vizinho muito brabo pelo vidro quebrado, continuou enchendo o saco da minha mãe que de raiva me bateu mais um pouco. Obrigado a ir pro quarto, nunca esqueci o dia em que o dia da criança perdeu todo o significado, que até então eu não entendia, mas o que ele se tornou pra mim eu nunca esqueci.
Alguns anos mais tarde, na adolescência, estava jogando bola na rua com outros caras, depois de um chute muito forte a bola estourou a janela daquele mesmo vizinho que me fizera apanhar quando criança. Ele saiu de casa me xingando e me enchendo de desaforos, minha mãe já havia morrido e minha raiva aumentava. Me dei conta que por causa do seu mau humor eu tinha perdido a minha infância, me tornando um cara mau humorado como ele. Me aproximei do portão, o vizinho muito brabo me chamava de tudo, até que ofendeu minha mãe, a partir desse momento meu sangue ferveu, o primeiro soco acertou exatamente seu nariz, com o impacto o sangue espirrou na parede branca da sua casa de merda, o segundo soco arrancou três dos seis dentes que ele ainda tinha na boca, a raiva era tanta que não percebi que seu filho de sete anos chorava e pedia pra que eu parasse de bater no seu pai. Em um momento de serenidade parei de agredí-lo, me abaixei e pedi desculpa pro menino, não queria que ele perdesse sua infância também. Ao levantar ouvi um estouro, uma dor forte na barriga, sentia algo escorrendo, ainda consegui ver o sangue sair, olhei pra frente e vi o vizinho com uma arma e na sua perna uma criança que sem falar dizia, "desculpa".

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