terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Assim caminha a humanidade

É triste ver o estado que chegamos, percebo que o Brasil se ajuda em momentos de crise, como essa que vemos nos noticiários da tv.

O que deveriámos realmente ver nesse momento é que estamos a um passo de destruir a única coisa que nos resta, nossa própria vida.
No dia que passou pela cabeça de algum cientista maluco que o homem, o in...significante homem, poderia destruir o mundo, o mesmo se achou um deus, o que não somos.
Não há como lutar contra a natureza e ela vem nos dando provas, como se precisasse, há anos, há milhares de anos.

De tempos em tempos a natureza mostra seu poder e aí vemos crianças sem lar e familiares chorando suas perdas materiais. Onde já se viu um morro destruir uma vida inteira de consumisto exacerbado! Pobres mortais que se acham donos do planeta...
O que me deixa triste é saber que em abril o lixo estará entupindo bueiros novamente, estaremos jogando lixo nas ruas, comprando o que não precisamos, destruindo a natureza para construir arranha-céus, comprando carros para andarmos sozinhos nas noites de sábado enquanto bebemos, fumamos e cheiramos, sem sequer pensarmos onde jogamos a bituca de cigarro ou mesmo a latinha de cerveja.
Quem se preocupa em ajudar os desabrigados nesse momento deveria também lembrar-se que durante o ano, cada vez que eles jogarem lixo nas ruas, estarão provocando suas próprias mortes no verão seguinte.
Temos que nos ajudar nesse momento difícil, mas temos a obrigação de nos lembrarmos que isso é nossa culpa, só nossa, não dos menos informados, não dos menos favorecidos, mas de todos, todos que circulam arrotando suas façanhas, todos que se julgam melhores que os que moram lá nas areas da tragédia.
A tragédia se mostra com a nossa cara, com o nosso sofrimento, mas principalmente com a nossa falta de responsabilidade, não podemos achar que o fato de mandar uma cesta básica ou alguns litros de água a quem precisa nos isenta da responsabilidade de um todo, somos parte de um ciclo que está prestes a acabar, como já acabou algumas vezes.
Aos que não se acham na necessidade de ler esse texto, não o faça, não se sinta responsável, durma tranquilamente em seu apartamento com circuito interno de vigilância e seu carro de luxo, volte pra sua vida maravilhosa, porque quando tudo der errado você terá pra onde fugir. Recicle seu lixo, não o jogue no chão, lembre sempre que a vida é um ciclo e pense nas próximas gerações.

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Quando o asfalto chegar

Quando Leonel chegou à Barra, o vilarejo ainda não pertencia ao exército, apesar de muitos não acreditarem nisso. Seu Leonel comprou, a muito custo, um pedaço de terra na única rua que ligava o vilarejo ao resto do mundo, pelo menos por terra era só esse caminho. Com a chegada de novos moradores, pescadores e milicos, o vilarejo cresceu, não muito, mas o suficiente para que muitos carros e caminhões passassem quase que diariamente na frente da casa de seu Leonel.
A família de seu Jorge chegou pelo rio e por conta do valor baixo do terreno, foi morar no lado da casa de seu Leonel, tornaram-se vizinhos. Seu Leonel era agricultor e seu Jorge pescador. A família de seu Jorge foi crescendo com a chegada dos gêmeos e depois da pequena Nina, já a família de seu Leonel não prosperava tanto, mas também seguia seu rumo natural. As pedras e a poeira que subia todo santo dia na frente das casas, não estava sendo um problema, até o dia em que seu Leonel teve que levar sua mulher ao posto de saúde com falta de ar. Chegando ao posto, a enfermeira foi enfática:
- Acho melhor o senhor levar sua mulher no hospital, não temos recursos suficientes para atendê-la.
Com a ajuda de vizinhos e alguns parentes, seu Leonel conseguiu pagar um enterro descente para sua esposa, que partiu vítima de enfisema pulmonar. Em casa tudo tinha mudado, havia silêncio onde antes havia murmúrio, havia frio onde nunca houve nada, mas a tristeza de seu Leonel era grande. Sua lavoura não andava bem, uma seca massacrava cada sabugo que conseguia respirar mais de uma semana, sua vaca estava magra demais para dar leite, até para o seu café da manhã. A menos de dois metros dali, na casa ao lado, se ouvia a família de seu Jorge comemorando e sorrindo quase que diariamente. Pescador de talento, seu Jorge nunca voltou para casa de mãos abanando, era muito cordial e amigo de todos.
Os demais moradores da vila, não compraram os terrenos, acabaram invadindo as terras cobertas pelo matagal. A vila se organizou, chamaram a companhia de energia elétrica e mandaram fazer a instalação de luz. A prefeitura, muito esperta, arrumou “ligeirinho” a rede de esgotos e de água encanada para poder ganhar sua parte através do imposto. Agora, até caminhão de lixo seletivo passava, mas a poeira maldita, que levou o amor de seu Leonel, ah, essa continuava a deixar as janelas de todas as casas fechadas, tornando um segredo a vida de quem dentro delas habitava.
Seu Leonel, apesar da poeira, gostava de ficar nos finais de tarde tomando chimarrão e vendo a vida passar, pelo menos o que ele conseguia através da poeira. Os anos foram se passando e a cada dia, havia mais movimento no vilarejo. Todos os finais de semana, pessoas de cidades vizinhas vinham usufruir das cachoeiras e lagos da Barra. O rio já era famoso por ter os melhores viveiros de peixes da região, até mesmo seu Leonel pensou em virar pescador, mas a vaquinha engordou e a plantação voltou a crescer e prosperar. Seu Leonel acreditava que sua vida havia melhorado, mas ainda faltava alguma coisa para que ela se tornasse absoluta, uma vida digna de quem acordou por cinqüenta anos na beira de uma estrada de chão que ligava o rio da Barra ao asfalto da auto-estrada. Faltava a dignidade de deixar sua janela aberta durante os dias quentes de verão e nas noites, entre os mosquitos e o luar mais lindo do mundo.
Uma manhã, seu Jorge voltou mais cedo de sua pescaria. Recebeu a ligação de sua esposa lhe informando, aos berros, que sua pequena e única filha mulher, Nina, estava doente. Rapidamente levaram a menina ao hospital mais próximo onde foi diagnosticado o mesmo mal que levara a mulher de seu Leonel. Como a menina estava em estágio recente da doença, foi medicada e depois de alguns dias voltou para casa sã e salva. Na manhã seguinte, com a ajuda de seu Leonel e de outros moradores, houve um protesto diante da prefeitura contra aquela poeira maldita. O prefeito prometeu abrir uma licitação de caráter emergencial para resolver o problema dos moradores.
Seu Leonel, seu Jorge e os demais vizinhos, mediram a rua onde necessitava asfalto e enviaram a metragem ao prefeito, que assinou, na hora, o projeto de construção da via pública do vilarejo. Aquele dia foi marcante, todos faziam planos, havia boatos de que, com a chegada do asfalto, viriam comerciantes e um tal “crescimento absurdo” para aquele vilarejo modesto chamado “Barra”. Seu Leonel estava em êxtase, foi na vendinha de seu Romão e pagou, em leite, uma rodada de cachaça para todos. Seu Jorge brindou junto.
- É Leonel, tu vê como são as coisas, quando tua mulher morreu , “que Deus a tenha”, a gente nem pensava em se organizar para conseguir o que a gente queria. Faltou um pouco de atitude naquela época, mas quando minha filha quase morreu, não faltou uma mão para que essa idéia seguisse adiante.
Leonel lembrou da sua mulher e não conseguiu conter o choro, Jorge e Leonel abraçados choraram a vida e a morte no mesmo gole. Dois dias depois surgiram, ao longe, entre poeira e solidão, caminhões da empreiteira escolhida para a realização do que seria “o maior avanço da civilização”, depois da garrafa térmica para aqueles que adoravam chimarrão e odiavam a poeira. Era para mais de cinco caminhões e máquinas retro escavadeiras, os homens com seus uniformes e capacetes davam ao lugar a idéia de que ali o mundo estava prestes a mudar. O que tantas noites tirou o sono dos moradores, agora estava prestes a se tornar realidade.
Seu Leonel saiu à frente de seu terreno para receber com aplausos, juntos com os outros moradores, as máquinas da nova obra do vilarejo. A segunda maior, pois a primeira tinha sido o muro do cemitério. Esse muro servia não só para determinar onde começava e acabava o mesmo, como evitava que em dias de temporais muito fortes os corpos escorressem pelo morro abaixo e viessem parar na rua onde o asfalto não havia chegado. Mas seu Leonel não gostou quando ouviu a seguinte frase do encarregado da obra:
- Vamos começar lá por baixo, são quinhentos metros de asfalto e de boca de lobo, tenho certeza que assim terminaremos em três dias. Vamos lá pessoal!
Quinhentos metros, o número de alguma maneira deixou seu Leonel desconfortável, mas estava feliz pois via com seus próprios olhos o que o ser humano era capaz de fazer. Ele levava água gelada para os operários e a mulher do seu Jorge levava bolinhos e bolachas, tudo para que eles trabalhassem com amor e bem rápido. Dizem as más línguas que a mulher do seu Jorge adorava ouvir as histórias que os obreiros contavam, enquanto comiam tudo que ela tinha para dar. Ao final de uma semana, os olhares que haviam brilhado como a negra cor do asfalto, que tomava a rua e deixava as casas mais bonitas do que nunca, se transformaram em desconfiança, principalmente de seu Leonel. Ele percebia que a obra ainda não tinha chegado à frente de sua casa e, pior, dava a entender que nunca chegaria. Em um dia quente de sol escaldante, seu Leonel percebeu que algumas máquinas estavam de partida e saiu correndo atrás delas para tirar satisfação do que realmente estava acontecendo.
- Ei, ei, ei!! Voltem aqui, faltou a minha parte! Faltou terminar aqui na frente da minha casa! Voltem, voltem, por favor voltem!
Seu Leonel olhou para trás e viu todos os outros moradores festejando diante de suas residências as maravilhas do asfalto. Ao perceberem a tristeza de seu Leonel, foram condescendentes com ele e começaram a chamar os caminhões, tudo sem sucesso. Na manhã seguinte, seu Jorge e seu Leonel foram à prefeitura para reclamar e se depararam com uma situação no mínimo constrangedora: a medida que eles mesmos haviam mandado para a prefeitura, não incluía a última casa que havia sido construída dias antes, fruto de mais uma invasão. Como os engenheiros mediram de baixo para cima, a casa do seu Leonel estava fora dos quinhentos metros de asfalto, sendo assim, não havia erro por parte da empreiteira e muito menos da prefeitura.
- Veja bem seu Leonel, não sei realmente o que eu poderia fazer para resolver o seu caso, uma nova licitação dependeria de aprovação dos vereadores que nesse exato momento estão resolvendo problemas de outras regiões. Sua demanda voltaria para o final da fila, sendo assim, levaríamos mais ou menos uns dez anos para resolver o seu problema. Mas quero que o senhor saiba que estou aqui para ajudá-lo no que for possível!
- Estou vendo! Mas deve haver alguma coisa que possamos fazer para amenizar esse problema secretário. - respondeu seu Leonel.
- Claro que sim, vou ver isso com meu pessoal e amanhã ligamos para dar um retorno, ok¿ Agora, se me derem licença, tenho outras pessoas para atender. – disse, conduzindo-os até a porta.
Nas semanas seguintes, diariamente, às oito da manhã e às cinco da tarde, passava o caminhão pipa para molhar o pedaço da rua que não tinha asfalto. Ao final da segunda semana isso não aconteceu mais, seu Leonel tentou organizar um grupo que fosse conversar com o prefeito, mas infelizmente a única parte que não tinha asfalto era onde ele morava. Isso desmotivou os moradores que já usufruíam da rua sem poeira.
Seu Leonel se tornou um homem de cara fechada, achou que tinha sido traído. Um dia, bêbado, bateu no rapaz que invadiu o último terreno que tinha na rua, o primeiro a ser asfaltado, causando péssima impressão nos outros moradores que começaram a enxergá-lo como um velho ranzinza. Ele, por sua vez, terminou por acolher o estigma. Hoje, quem vai à prainha da Barra, pega muita poeira pela estrada, são mais de dez quilômetros de estrada de chão e quinhentos metros de asfalto. Logo depois da curva a prefeitura colocou pedras de paralelepípedo, imaginando que estavam fazendo para o lado certo, mas infelizmente erraram o lado novamente. Dessa forma a casa do seu Leonel se tornou referência para os turistas:
“ Para chegar na prainha da barra é simples: segue pela estrada de terra até a casa do véio Leonel, que é a ultima com poeira, depois começa o asfalto.”
O tão esperado “crescimento absurdo”, com comércio e lojas, não chegou, preservando boa parte da história do vilarejo. Seu Jorge, hoje, líder comunitário e guia turístico, segue feliz da vida e volta e meia faz umas festas para celebrar as suas conquistas, sempre convida seu Leonel, mas esse não quer saber de nada. Quando convidado para qualquer coisa, a resposta é sempre a mesma:
- Vai pra puta que te pariu.


Fim.

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

O Escritor e a Atriz

Uma simples carta pode mudar a vida dos que não esperam mais nada dela...

Olá sou escritor do interior e me disseram que a senhorita poderia me ajudar na carreira.
Meu nome é Raul, sou um homem desiludido com a profissão, não tenho filhos e nem onde morar, não tenho amigos nem mesmo um cachorro a quem chorar minhas mágoas.
Moro no fundo de um terreno baldio. Me alimento quando tenho fome e o que estiver disponível.
Meu talento, ah esse nunca me abandonou, diferente das milhares de mulheres que tive e que não acreditavam nele.
Sempre quis conhecer mais pessoas que trabalham com arte. Um dia vi num recorte de jornal o retrato de uma linda mulher, parecia um copo de leite. Era uma atriz somente de teatro, apesar de achar que atores são de tudo, de tudo onde se precisa de interpretação, mas entendi quando li sobre ser atriz somente de teatro.
Gosto de escrever e tenho alguma habilidade para isso, nunca soube se o que escrevia era bom ou ruim, como não tenho amigos e as pessoas que conhecia eram todas analfabetas, não tive esse feedback das minhas escritas.
Espero que me desculpe por aparecer assim sem avisar, mas tenho certeza que se a senhorita me der um segundo de atenção verá em mim mais que um homem. Sou bem mais que isso, sou um ser que pensa, que ama e que sofre.
Como estava lhe falando, quando vi aquele recorte de jornal e aquela mulher que nele repousava, meus olhos brilharam, mas isso foi há muito tempo atrás, nunca mais vi ela em lugar algum.
Certa vez, anos mais tarde, enquanto tentava comprar uma tv, o vendendor trocava de canal e de repente ela surgiu como um anjo, seu rosto branco parecia mais branco que de costume. Suas roupas eram infantis, bem diferente da primeira vez que a vi, mas seu olhar era o mesmo, o que dispertou em mim novamente a paixão.
Sei que minhas desculpas para me aproximar dela não são as melhores, mas também não tenho porque me desculpar. Nunca vi ela, mas sempre lhe amei, do meu jeito, a distância, com paciência de quem sabe que o que é seu, está guardado.
Sabia que o dia iria chegar e junto com esse dia minha sorte mudaria, não seria mais visto como um qualquer, não seria mais um a passar pela fome de vida que rege os seres humanos sem alma.
Sabia que a paixão e o eterno amor estariam ao meu lado em forma de uma bela e branca mulher de olhos pequenos e coração grande, de amores impossíveis e de sexo vibrante, sei que estou sendo chato com a senhorita e mais uma vez queria me desculpar, prometo ser mais objetivo daqui pra frente, apesar de não saber como dizer isso normalmente, acredito que sim é possível e por isso venho a sua procura, da senhorita, apesar de todo seu conhecimento, não quero nada de trabalho, quero apenas saber que na minha vida um dia conheci e conversei com uma diva, uma musa do teatro, não saberia terminar essa conversa de outra maneira a não ser a que lhe direi agora
Senhorita Carlota Back aceitar casar comigo para todo sempre até que a morte nos separe?
Beijo Te Amo

Resposta:

Prezado Sr. Raul, tua sinceridade me toca, como tocado somos todos os que trabalham com arte e que vêem no coração humano mais que veias e sangue. Vemos um combustível de vida, de arte, de beleza, de sentimento, de ar, de pulsar, de respiração... Tuas palavras me tocaram.
Sou um ser humano cheio de erros, incompreensões, chatice, egoísmo, mas com uma sensibilidade ímpar para perceber um ser humano talentoso, sensível, interessante, vibrante e pelo jeito com enorme capacidade de escrita como percebo em vossa senhoria.
Adoraria crescer ao seu lado, me tornar uma pessoa melhor, mais iluminada, mais feliz..... Temo que isso possa acontecer quando o frente a frente surgir,
também já esperei pacientemente a chegada daquele que meu intímo suspeitava ser uma pessoa pra lá de especial, acalentei esse momento por anos.
Vendo-o de perto, respirando informações, acalentando sonhos, hoje ISTO surgiu.
Aceito seu pedido de casamento e prometo que ele não será só especial
será uma beleza semelhante a arte que a gente acredita e para o qual a gente vive. Meu amor a arte se equipara ao amor que posso lhe oferecer pois ambos andarão juntos.
Estou indo ao teu encontro nesse momento, me aguarde.
Estou de blusa com flores e bermuda branca.
Só peço que me ame sempre que eu sempre te amarei.