segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Felizmente o mundo é perfeito, já a gente...

Ninguém pensa em ficar doente, isso seria doentio. Nada contra os hipocondríacos de plantão, até acredito ser um deles, disfarçado, mas as doenças são os menores problemas da sociedade contemporânea. O homem e sua capacidade de prolongar a vida humana com clones, transplantes, repositores de peças, mais antibióticos e assemelhados, tornou possível que o homem viva mais e melhor. Será?
Na mesma velocidade que nós criamos remédios e peças de reposição, criamos armas biológicas, medo, insegurança e despreparo para a vida. Cada um é responsável pelo seu mundo, já que está impossível viver em sociedade. Muitos vão dizer: o Cesar está ficando besta com essa mania de querer pensar. Mas pare e pense do que temos medo nos dias de hoje: de câncer ou de bala perdida? Da AIDS ou de um homem bêbado atrás de um volante? Essas são perguntas que ficam na minha cabeça. A vida toma uma velocidade incrível em nome da tecnologia, que para muitos ainda não é uma realidade. Realidade é a dengue, a febre amarela, o sarampo. Inacreditável relatar essas coisas, nossa falsa evolução nos leva a um abismo de medo e pânico onde a energia elétrica é nosso suporte de segurança, e como ficam nossas vidas sem luz? Não é um papo espírita agora, mas o fantasma está entre nós.
Enquanto esperava minha velha e sábia mãe ser atendida no HPS de Porto Alegre, observava as pessoas que ali estavam: acidentes de moto, balas perdidas, choques, facadas e tentativa de suicídio. Veja que se puxar um pouco pela memória não citei nenhuma doença fora a raça humana, mas como assim, alguém irá dizer, pois bem, o ser humano é uma doença, muito similar ao câncer, que destrói um organismo e que abriga milhares de pessoas e outros seres vivos dentro desse planeta maravilhoso. Somos canibais, anti sociais e extremamente vulneráveis, a caça de hoje é o caçador de amanhã, não estamos seguros em nossas celas particulares, lugar que chamamos com um grande carinho de lar.
As grades que nos rodeiam por todos os lados, nos mostram um outro mundo onde pessoas de bem seguem escondidas nas sombras do mal que insiste em nos atormentar. Esse mal pode ser considerado como inveja, a "inveja branca", como muitos gostam de dizer, inveja branca não existe, inveja não tem cor.
As lacunas da sociedade atual deixa em aberto as falhas no sistema, fazendo que marginais de colarinho branco se beneficiem dessas lacunas, mas e onde vamos nessa velocidade, que evolução é essa? A resposta é simples, não há evolução e sim um ciclo que se encerra com a tentativa de fim do mundo. Esse nunca vai acabar, mas vai se renovar e já mostrou isso algumas vezes de várias maneiras, muitas vezes se livrando de seres até mais fortes que nós humanos. O que mais me assusta hoje é a maneira que lidamos com nossa fragilidade, onde uma bala pode dar fim a todos as nossas escolhas, o fim da vida.
Voltemos ao hospital, minha mãe está sofrendo com uma gripe que faz com que ela fique tossindo horas a fio, tornando insuportável a dor nos seus músculos internos, fora outros problemas relacionados a idade, coisas normais em alguém que leva a vida sedentária que ela leva, não que seja culpa dela, muito pelo contrário. A culpa é do dinheiro, outra invenção maravilhosa do animal mais esperto que existe, o homem, veja bem... quem disse isso foi um homem também. Isso merece alguma credibilidade?
Das doenças que o homem traz ao longo dos séculos as piores são: a ganância, a inveja, o cinismo e a arrogância. São doenças do cérebro e sendo assim praticamente impossíveis de serem curadas. Enquanto ela esperava que o remédio fizesse efeito, eu na sala de espera, olhava uma menina que tinha tentado se matar com laxantes em excesso, ora, logo imaginei que ela queria morrer de tanto cagar mas depois escutando a conversa da pessoa que a acompanhava, percebi se tratar da avó, já que a mãe recusou-se a sair de casa por causa daquilo. Devia estar cansada de ver a própria filha pedir atenção, problemas neurológicos e psicológicos que dizem respeito às duas, mãe e filha.
A fuga da realidade sempre me deixou atucanado, também já estive nessa posição , buscava nas drogas a realidade que gostaria de ter. Isso está muito relacionado ao dinheiro, ou a falta dele. As doenças do homem se mostram mais viscerais a cada dia que passa, nos tornando cada vez mais agressivos, como se voltássemos a idade do homem das cavernas. Uma prova viva disso é o crack, a primeira vez que ouvi falar nessa droga foi em 1987 no filme New Jack City, onde já mostravam o que seria a epidemia do século XXI, mas hoje o que vemos são zumbis que circulam entre nós e nos mostram o quão fracos somos.
Em 35 anos de vida passei por aids, ebola, gripe suína, aviária e agora vejo que dessas, a mais forte, é o próprio homem. E tudo isso pra que?
As perguntas se arrastaram durante a madrugada na minha cabeça e as respostas não vinham, dentro daquele hospital fiquei e vi de tudo, mas não enxerguei a cura nem para os problemas que havia lá dentro, nem para os problemas que existem aqui fora. Um simples xarope curou minha velha mãe enquanto outro “xarope” escrevia esse texto. Que bom seria se um xarope ou vários nos ajudassem a resolver tantos problemas. E tem gente que insiste em me dizer que o mundo tem jeito, ora que o mundo tem jeito eu sei, mas e as pessoas tem?

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